Monday 30 November 2009

Teatro de Sombras




O tempo passa e não existe nada além de mim, só eu, eu, eu, até onde meu coração alcança. Existe algo além da solidão? Duvido, tudo ilusão.

As pessoas não são reais, são todas projeções dos seus medos, dos seus sonhos, dos seus desejos.

Eu me relaciono com o que projeto em você, você se relaciona com o que projeta em mim.

Zizek diz que o real é insuportável, o excesso de aproximação revela a feiura do outro, que incomoda porque sabemos também ser feios perto demais. Portanto não interagimos com o real, mas sim com a realidade, que sempre possui um tom de ‘phantasia’, algo que projetamos para fazê-la suportável.

Olhe em volta, este é o mundo que você criou. Talvez saber disso é mais difícil de suportar do que achar que a realidade lhe é imposta.

O problema é que criamos tudo e nos criamos sem saber o que estamos fazendo. Somos criadores ignorantes, somos sonâmbulos. A única solucao seria acordar, mas isso lhe faria consciente de possuir 100% de responsabilidade, e isto, eu confesso, é esmagador.

Saturday 21 November 2009

Da próxima vez que te chamarem de neurótico diga ‘Sim, obrigado’

A pessoa que é normal, em termos de ser bem adaptada [à sociedade], é, geralmente, menos saudável do que a pessoa neurótica, em termos de valores humanos. Frequentemente, ela é bem adaptada apenas às custas de ter desistido do seu self de forma a se tornar mais ou menos a pessoa que ela é esperada ser. Toda a individualidade e espontaneidade poderá ter sido perdida. Por outro lado, a pessoa neurótica pode ser caracterizada como alguém que não estava pronto a se render completamente na batalha pelo seu self. Certamente, sua tentativa de salvar seu self individual não foi bem sucedida, e ao invés de expresar o seu self produtivamente, ela procurou salvação através de sintomas neuróticos e através da retração em um mundo de fantasias. De qualquer forma, do ponto de vista dos valores humanos, ela é menos deficiente do que o tipo de pessoa normal que perdeu toda a sua individualidade.

By Erich Fromm
In The Fear of Freedom

Wednesday 4 November 2009

O Ego como uma agência de fortalecimento



As percepções internas sobre o ‘eu’ deveriam contar mais do que as percepções externas, aquelas que provém de terceiros, mas como as pessoas em geral tem um ego muito fraco e pouco definido - ouso dizer que a maioria, daí o nome massa, ou como alguns dizem em desdem: ‘a massa ignara’ – a indentidade acaba sendo algo mais imposto do que sentido. Porque o ‘ego’, ou melhor dizendo, o ‘eu’ é em geral apenas esquemático, a grande maioria de nós está sujeita a cair presa de todo tipo de armadilhas mentais, manipulações de terceiros, condicionamentos subliminares, entre outras coisas. Na verdade, não sabemos o que é isto, o ‘eu’, vivemos uma ilusão do ‘eu’, parecemos indivíduos, vivemos em uma sociedade individualista, ego-cêntrica, mas o centro na verdade está neste ‘eu’ ilusório, este ‘eu’ que criaram para nós. Daí o porque as pessoa se deixam enredar pelos papéis. Os papéis sociais se sobrepoem ao que seria a essência pessoal. A individuação no mundo conteporâneo ainda é uma ilusão, ou melhor dizendo, uma grande delusão.

Mudando o foco e voltando para os tais processos interiores, as percepções internas deveriam contar mais do que as externas, e não importa qual a mais acurada –mesmo com o risco de se estar vivendo uma alucinação – porque ao fim, quando todos se afastam, são só os seus próprios pensamentos e sentimentos que ficam, e é só com eles que você é obrigado a conviver sem escolha.

Segundo vários filósofos e psicanalistas, psicólogos e afins, o ‘eu’ é definido pelo outro, pela presença do outro, o não-eu. Mas talvez o verdadeiro ‘eu’, aquele ‘eu’ que alguns chamam de self, ou ‘eu’ total, ou qualquer outro nome que escolas de psicologia e místicos queiram dar, apenas possa ser encontrado no isolamento. Quando o mundo lá fora silencia, você pode finalmente ouvir com clareza as vozes da sua multidão interior. Qualquer tentativa de unificação e integração deveria ser conduzida em um estado de isolamento, e quando o isolamento físico não é possível, imagino um estado de isolamento mental, um período de retiro do mundo, mesmo quando se está nele (o que entendo ser um equilíbrio extremamente delicado), possa colocar a pessoa em contato com si mesmo, algo além do ‘eu’ mundano.

Desta forma, quando as conexões externas são estabelecidas –mas saiba que elas nunca mais serão as mesmas, porque você nunca mais será o mesmo - você deve estar forte o suficiente para que nada ou ninguem possa ser capaz de te retira do seu centro, de te manipular, te fornecer uma realidade pre-manufaturada. É a isto que eu chamo fortalecimento do ‘ego’, fortalecimento do ‘ego’ não é um processo de ego-centrismo ou ego-ismo, mas de ser capaz de se sustentar mentalmente sem cair presa da ‘ordem natural do pasto’.

A questão maior é, você seria capaz de ficar forte o suficiente para não cair presa do próprio ego? Fortalecer o ego para depois vê-lo/se morrer no processo de transcendência é um desafio ainda maior.

Sunday 11 October 2009

Mais Carlitos

"Energia compartilhada cria parentesco. Energia eh como sangue."

The Art of Dreaming
Castaneda

Tuesday 8 September 2009

Intento


“Intentar é desejar sem desejar, fazer sem fazer.”

In The Art of Dreaming
By Castaneda

Convenhamos que depois dessa fica fácil acreditar que Castaneda copiou coisas do Tao Te King...
Mas isto não é importante, só a mensagem importa.

E dom Juan? Existiu mesmo no mundo “real”?

Oh! seres sem fé e de pouca imaginação...

Saturday 29 August 2009

A INSUSTENTAVEL LEVEZA




Esvaziando o copo, ou melhor, o corpo

“— Armas mágicas eram terrivelmente importantes antigamente —
continuou Clara. — Armas como os cristais tornaram-se uma extensão do próprio
corpo do feiticeiro. Elas eram cheias de energia capaz de ser canalizada e
projetada externamente, através de espaço e tempo. Contudo, a arma definitiva
não é um dardo de cristal, uma espada ou mesmo uma arma, mas o corpo
humano. Pois ele pode ser transformado em instrumento capaz de reunir,
armazenar e direcionar energia

— Podemos considerar o corpo como um organismo biológico ou como
fonte de poder — prosseguiu Clara. — Tudo depende do estado do inventário em
nosso depósito; o corpo pode ser duro e rígido ou suave e flexível. Se nosso
depósito está vazio, o próprio corpo está vazio, e a energia do infinito pode fluir
através dele.

Clara reiterou que para nos esvaziarmos temos de mergulhar em um
estado de recapitulação profunda e permitir que a energia flua através de nós
livremente. Apenas na quietude, ressaltou ela, podemos conceder ao vidente
pleno domínio, ou a energia impessoal do universo pode transformar-se na
própria força pessoal da intenção.

— Quando nos esvaziamos suficientemente de nosso inventário obsoleto e
obstaculizante — continuou ela —, recebemos a energia, que se acumula
naturalmente; quando uma quantidade suficiente se aglutina, ela se transforma
em poder. Qualquer coisa pode anunciar sua presença: um ruído alto, uma voz
suave, um pensamento que não é nosso, uma onda inesperada de vigor e bem estar.”

In A Travessia das Feiticeiras, Taisha Abelar



A Insustentável leveza

Quando se chega a um certo ponto da vida onde estamos devidamente culturados e condicionados, esvaziar é uma tarefa muito mais árdua do que continuar enchendo e acumulando, sejam comportamentos, conhecimentos inertes, ligações que se tornam elos e elos que, por fim, se tornam correntes.

Em princípio pode parecer que esvaziar e tornar-se mais leve e fluido é algo que todos exultariam em conseguir, mas não é bem assim. Me lembro de ter lido em um desses livros de cura energética uma história bem ilustrativa sobre isso. A terapeuta havia tido um grande trabalho com um paciente para que este pudesse se liberar de uma forma-pensamento que estava causando-lhe sérios distúrbios, quando por fim ele conseguiu o intento, não pode suportar a súbita sensação de leveza e liberdade que sobreveio com a limpeza de seu campo energético. O que esta pessoa fez então foi criar uma nova forma-pensamento e colocar no lugar da antiga, e lá foi ela arrastando sua bola de ferro e corrente mais uma vez.

A questão é que o homem desaprendeu a ser livre. O vazio, ao invés de ser o ‘vazio criativo’, se tornou um lugar de ansiedade e pânico, pois o homem não sabe lidar com o que é seu estado de liberdade. É mais confortável, ainda que destrutivo, continuar caminhando encurvado com um enorme saco nas costas do que enfrentar as dores inicias do momento em que ele consegue, finalmente, se livrar do peso extra e esticar a coluna. O ser humano prefere agarrar desesperadamente sua carga, simplesmente por medo de andar ereto sem segura em nada, sem uma muleta. Ele tem medo de flutuar e se perder no espaço, tem medo de enlouquecer, tem medo de se dissolver caso não se sinta sólido e pesado o suficiente. Enfim, tem medo.



Thursday 20 August 2009

Furos no tecido




A verdade é que eu tenho mais perguntas do que respostas para oferecer. Na verdade eu só tenho perguntas, e quase sempre extremamente pessoais, mas como somos todos mais ou menos parecidos, acho que eu devo compartilhar das mesmas questões que determinadas pessoas. Uma, por exemplo, é : O que acontece nos vácuos da memória? Quando eu tento reconstituir certas cenas ou pensamentos eu sempre me deparo com partes obscuras das quais eu tenho apenas uma vaga sensação de acontecimento. Talvez seja apenas herança de familia. Por parte de pai eu descendo de pessoas muito distraídas. Faz parte dos meus trabalhos hercúleos mudar isso, ter uma memória mais confiável, mas não no sentido de solidificar lembranças no tempo, mas sim poder recorrer a certos conhecimentos já apreendidos, poder acessar certas lembranças sem passar horas com aquela sensação de estar fazendo um donwload de um arquivo gigantesco numa conexão discada.

Claro que a memória é algo dinâmico. Mesmo quando lembramos algo vividamente, pode ter certeza de que não é algo concreto, como uma foto, congelada no tempo desde do momento do acontecimento, onde sua percepção atua para captar aquilo. Até o momento em que você relembra, varias coisinhas já se alteraram. Então claro que eu não quero uma memória-gravador, passiva e sem nenhum colorido subjetivo. O que eu quero é eliminar ao máximo os bloqueios, os momentos que se obscurecem e ficam foram do meu alcance consciente, aquela lembrança que é apenas uma coceira, mas que eu não consigo descobrir a causa.

Só que a coisa pode ainda ser mais assutadora do que uma simples falha nas conexões neuronais. As vezes a memória falha não por ser fraca, mas porque aquilo que você experienciou está além da percepção cotidiana. Principalmente se for algo que não possa ser colocado em palavras.

Saturday 15 August 2009

INTEGRIDADE






Coisas que são consideradas como sacrifícios pelo homem comum devem vir como uma segunda natureza, ou melhor, como a natureza do homem sábio. Claro que como, inicialmente, somos todos comuns, tudo começa com um sacrifício, o nosso próprio. Depois de um tempo, no entanto, as coisas se tornam tão naturais quanto respirar. Para quem vê de fora, parece que nos privamos, para quem vê por dentro, não há nada para se privar, tudo flue.

Eu sonho com o dia em que obterei essa integridade.

Wednesday 5 August 2009

Gripe Suina, oinc, oinc




Isto eu recebi por email, nao sei a autoria.

A questao eh que adoeci por estes dias e entrei em panico.
Nao foi a gripe oinc, oinc, mas eu vi como a "influencia" atuou em mim logo depois uma conversa carregada de doencas e panico aconteceu com uma pessoa proxima. Um mero resfriado ou talves apenas uma crise alergica se tornou na minha cabeca a promessa de uma pneumonia dupla com direito a coma e tudo. A verdade eh que comecei a ficar mais doente, mentalmente doente, ate que decidi reagir e encarar que nao passava tudo de influencia.

Pois eh criancas, quantos furinhos ainda tenho que fechar no meu campo. Tsc, tsc, puxao de orelha e umas duas pauladas de mim em mim mesma.


Gripe Suína
Mudando a Mente para se proteger


O vírus causador da gripe é chamado de Influenza.
Gripe = Influenza = Influência = não fluir, não ser espontâneo.

Segundo a autora Louise Hay em seu livro "Cure seu Corpo", o padrão de pensamentos e de comportamento de quem adquire gripe é :

- Reação contra a negatividade. Temor. Deixar-se influenciar pelas opiniões alheias.
E o novo padrão de pensamentos que devemos ter, em substituição ao padrão acima é:

- Estou acima de crendices e imposições sociais. Estou livre de influências e pressões.

É interessante observarmos que em casos recentes de gripes epidêmicas ou pandêmicas houve situações de negatividade e temor em caráter mundial e a população sofreu grande influência (Influenza) da opinião pública, despertando o medo e o temor em relação ao futuro.

Observe abaixo um descritivo resumido de cada surto epidêmico ou pandêmico de gripe :

1) 1.918 Gripe Espanhola: após a Primeira Guerra Mundial
2) 1.933 Surto ligeiro: após a queda da bolsa de valores de 1.929
3) 1.946 Surto ligeiro: após a Segunda Guerra Mundial
4) 1.957 Gripe Asiática: após Pacto de Varsóvia ( ameaça de uma 3ª Guerra Mundial )
5) 1.968 Gripe de Hong Kong: após o início da Guerra do Vietnã ( ameaça de uma 3ª Guerra Mundial )
6) 2.004 Gripe Aviária: após ataque à NY e Guerra do Iraque ( ameaça de uma 3ª Guerra Mundial )
7) 2.009 Gripe Suína: após a Crise Financeira Mundial atual

Segundo o horóscopo chinês, o signo do porco está associado à prosperidade. Também em várias culturas a imagem do porco está associada à cofrinhos, à fartura e à riqueza.
A principal atitude para evitarmos qualquer gripe é confiarmos no processo da vida e não sermos INFLUENCIADOS pela situação geral; não termos medo do futuro.
No caso específico da gripe suína, devemos evitar o temor em relação às questões econômicas e financeiras. Devemos confiar na Provisão Divina e na Prosperidade do Universo.
Não adquira Influenza. Não seja influenciado! Não se deixe influenciar pelas notícias de "Crise Financeira Mundial".

Acredite no Futuro, acredite na Vida!
Vamos FLUIR!

Abaixo um descritivo mais abrangente de cada surto epidêmico ou pandêmico de gripe:

1) A Gripe Espanhola em 1.918, que afetou 50% da população mundial, tendo matado 20 a 40 milhões de pessoas, ocorreu logo após o final da Primeira Guerra Mundial.

2) Em 1933 houve um surto ligeiro de Gripe, provavelmente ocasionada pelo temor ocasionado após a queda da bolsa de valores, em 1.929. http://www.roche. pt/sites- tematicos/ gripe/index. cfm/gripe/ epidemias- e-pandemias/ pandemias

3) Em 1.946 houve uma epidemia ligeira de gripe, logo após a Segunda guerra mundial - 1939-1945, que não recebeu um nome específico e juntamente com as gripes de 1.957 ( Asiática ) e de 1.968 ( de Hong Kong ) foram as epidemias mais recentes da história. http://www.roche. pt/sites- tematicos/ gripe/index. cfm/gripe/ epidemias- e-pandemias/ pandemias )

4) A Gripe Asiática, em 1957, foi precedida pelo Pacto de Varsóvia em 1.956. O Pacto de Varsóvia foi uma aliança militar formada em 1955 pelos países socialistas do Leste Europeu e pela União Soviética. O tratado estabeleceu o alinhamento dos países membros com Moscou, estabelecendo um compromisso de ajuda mutua em caso de agressões militares.
O organismo militar foi instituído, em oposição à OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), organização internacional que uniu as nações capitalistas da Europa Ocidental e os Estados Unidos. A Criação do Pacto de Varsóvia gerou muito temor no mundo, pois criou a expectativa de uma Terceira Guerra Mundial.

5) A Gripe Hong Kong, em 1.968 ocorreu no clima da Guerra do Vietnã, sob ameça de início de uma Terceira Guerra Mundial.

6) A Gripe Aviária, em 2.004 foi precedida pelo temor mundial de uma guerra atômica, após o atentado de 11 de Setembro de 2.001 às Torres Gêmeas e posterior guerra dos Estados Unidos contra o Iraque, que começou no dia 19 de março de 2003 e que foi, por muitos, posicionada como possível início da Terceira Guerra Mundial.

7) A Gripe Suína, agora em 2.009 foi precedida pela Crise Financeira Mundial que gerou uma enorme insegurança na população mundial


Friday 24 July 2009

VOCE, CRIADOR DA REALIDADE

OU
APROVEITE O SEU SINTOMA, UM ADENDO

Ken Wilber diz que só o psicótico cria sua propria realidade. Seal diz que só iremos sobreviver se formos um pouco loucos. Então eu digo: sejamos psicóticos, mas na medida certa. Aí entra a ‘loucura controlada’, como ensinada por D. Juan.

Sejamos loucos controlados e, então, sobreviveremos e muito mais.

Tuesday 14 July 2009

Aproveite Seu Sintoma

“Ele explicou que feiticeiros são homens de conhecimento mais do que homens de razão. Desta forma, eles estão um passo a frente dos intelectuais ocidentais que assumem que essa realidade - que quase sempre é equiparada com verdade - é conhecida através da razão. Um feiticeiro clama que tudo o que é conhecido através da razão são os nossos processos de pensamento; mas que é somente entendendo nosso ser total, no seu mais sofisticado e intricado nível, que poderemos eventualmente apagar os limites com que a razão define a realidade.”

Being in Dreaming
By Florinda Donner

Apesar de ainda não ter lido, eu criei uma relação de amor com o título de um livro de Žižek: Enjoy Your Symptom. Desde que eu vi esse título pela primeira vez, ele me intrigou a ponto de se tornar um dos meu mantras pessoais.

Ele me remete diretamente ao dia em que descobri que eu era paranóica.

Foi numa aula de Psicologia Social. O professor falou que se você acreditasse em algum tipo de realidade alternativa, como em Matrix - exemplo dado por ele-, você era paranóico. Acho que devo ter comentado rindo com a pessoa do lado: “Então sou paranóica!”. Não que eu acredite que estamos em estado de animação suspensa em uma cápsula, sonhando dentro de um sistema de computador, enquanto máquinas espertas se alimentam de nossas energias - mas a verdade é que estamos. Acredito que essa foi uma das melhores maneiras já mostradas no cinema sobre a nossa condição de gado - vale colocar aqui que um dos capítulos do livro de Žižek trata do filme Matrix, e lendo rapidamente na livraria, vi que ele trata do fato de que, quando você sai da Matrix, você continua em uma vida de sofrimentos, lutas e privações, ou seja, esse primeiro despertar é ilusório. Não posso especular muito sobre o que ele diz realmente no livro pois foi uma leitura ultra superficial, mas se eu captei o sentido correto, me parece bastante acertado. Se você parar e pensar que estamos em um “estado de cebola”, camada sobre camada, o primeiro despertar é só isso mesmo: o primeiro de muitos outros que ainda vamos ter que buscar, com o risco de parar no meio achando que chegou no final.

Também me lembro de um outro dia, numa aula de Teoria da Psicanálise, quando uma colega comentou sobre uma experiência mística que ela teve em uma dessas jornadas esótericas. Ela perguntou ao professor se isso seria uma experiência espiritual ou apenas um epsódio psicótico, no que ele respondeu algo como: “E por que não os dois ao mesmo tempo?”.

A questão é que para ser bruxa, feiticeiro, mago, grão-mestre, e até padre, acreditar em níveis de realidade ou mundos além da nossa esfera cotidiana, alguém tem que ser meio, senão totalmente, doido, paranóico e psicótico, entre outas coisas. Claro que não dentro dos moldes da patologia tradicional, um louco descontrolado, ou doido de jogar pedra, como se diz na Bahia, mas um louco que sabe se passar por normal para os outros normalpatas. Que por falar nisso, a normalpatia é o que eu considero a pior loucura, aquela loucura legítima, em que o doido nem sabe que é doido.

Aqui entram, finalmente, conceitos que me são muito caros, e com os quais eu também tenho um caso de amor: a loucura controlada e a espreita como colocados por Castaneda em seus livros.

A loucura controlada tem sido o meu método, se é que isso é um método, de operar na realidade cotidiana sem enlouquecer nos moldes tradicionais e ir parar nas mãos de um psiquiatra com cara de peixe-morto (é que uma vez eu me auto-diagnostiquei depressão e fui consultar um psiquiatra que tinha cara de peixe-morto, e para o qual eu nunca voltei, porque para mim ele não passava de um zumbi, mais zumbi que eu, então como poderia ele me ajudar? Sim, sim, típico comportamento paranóico). E a espreita tem sido o meio almejado de conseguir me ajustar a tudo isso, fingindo sem ser falsa. Para mim, a loucura controlada depende diretamente da maestria na espreita.

Claro que eu não domino a espreita ainda e vivo me deixando enredar pelo cotidiano volta e meia, confundindo a máscara com a cara, e achando que eu sou o personagem. Resumindo, me identificando com a verdadeira loucura que é a dita realidade. Mas apesar de tudo isso, eu acho que vale a pena continuar, mesmo que isso esteja consumindo a minha vida inteira, afinal, com o que mais eu consumiria ela? O que vale mais?

Minha única conclusão aqui é : aproveite seu sintoma e não tenha pena de si mesmo.

Enjoy your symptom and don’t feel sorry for yourself

Friday 3 July 2009

Eu, A Bruxa?


“Elas qeriam que eu mudasse a maneira na qual eu me concentrava em assuntos cotidianos como cozinhar, limpar, lavar roupas, ir para a faculdade ou ganhar a vida.

Isso deveria ser feito, elas me disseram, sob auspícios diferentes: essas atividades não deveriam ser tarefas mundanas, mas esforços engenhosos, um tão importante quanto o outro.”


“-Eu sei o que você espera de feiticeiros. Você quer rituais, encantamentos. O estranho, cultos misteriosos. Você quer cantar. Você quer ser uma com a natureza. Você quer comungar com os espíritos das águas. Você quer paganismo. Alguma visão romântica do que os feiticeiros fazem. Bem germânico. Para pular no desconhecido, - ela continuou – você precisa ter estômago e mente. Somente com eles você poderá ser capaz de explicar para você mesma e para os outros os tesouros que voce deverá encontrar.”


Being in Dreaming
By Florinda Donner



Esperamos que o mágico oculto no universo nos seja revelado através dos mais elaborados e bizarros rituais: séries de atos e palavras que devem ser aprendidos e repetidos em certa ordem desencadeariam certos eventos ou moveriam certos portais que, então, nos permitiriam controlar forças ocultas ou obter poderes supranormais que, no fim das contas, acabariam servindo apenas para entreter nossos egos e realizar desejos infantis.

Na verdade, não é esse tipo de bruxaria ao qual estou me referindo aqui. Se você espera receita de feitiços usando maçãs, velas, etc e tal, não irá encontrar nada parecido. Na verdade, o que pratico, ou pelo menos tento, é entrar em contato com certas forças – de fato, percebê-las conscientemente, pois elas já estão em contato conosco – que levariam ao caminho do auto-conhecimento ou, ainda melhor, auto-realização.

Eu não faço parte de nenhuma linhagem de bruxos ou sigo qualquer espécie de tradição ou sistema mágico estabelecido para obter conhecimento ou realizar magia. Na verdade, eu não faço nada de parecido com bruxaria de acordo com que o senso comum está acostumado a denominar como tal. Isto não quer dizer que certos sistemas, escolas ou tradições não me influenciem ou inspirem de alguma forma. O que quero deixar claro é que eu não tenho qualquer tipo de compromisso ou afiliação com os mesmos. Essa falta de compromisso me permite absorver e digerir aquilo com que entro em contato e utilizar o que aprendo de acordo com meus instintos. Reconheço que essa forma de aproximação pode ser pouco prática, podendo até ser perigosa ou apenas infrutífera – o que é na maioria das vezes, especialmente quando não se tem uma egrégora potencializando seus esforços. Porém isso também me poupa de ligações indesejáveis, muitas das quais eu nem iria notar, mas elas estariam lá, no meu campo de energia - muitas estão, mesmo assim. Não sou tão inocente a ponto de achar que estou livre delas.

Escolhi chamar essas práticas ecléticas de bruxaria simplesmente porque, como mulher, me sinto confortável com esse título, inclusive abarcando o significado prejorativo que isso pode ter. Por tanto, me considero uma bruxa.

Não tenho datas especiais, dias específicos, locais ou instrumentos mágicos – não que eu não possa eventualmente vir a fazer uso disso, mas minha prática se dá no dia a dia, e o melhor instrumento é meu corpo-mente. Imaginação, criatividade e atenção são minhas metas a serem desenvolvidas sob o meu controle, pois no momento eu as tenho de forma absolutamente caótica, não o caos que possue uma ordem oculta e complexa, mas meu caos interior que é, na verdade, a simples e vulgar bagunça. Dessa forma, dando dois passos pra frente e um para trás, tem se dado minha lenta e cansativa progressão. Não que eu esteja feliz e satisfeita com isso, mas é tudo o que obtive até o momento.

Se eu vou chegar a algum lugar ou obter algo? Falando sério, essa jornada não é exatamente sobre chegar a lugar nenhum ou se obter nada visível. Essa jornada é sobre dar um passo além da minha humanidade, através dela.

Tuesday 26 May 2009

EM BREVE