Friday 24 July 2009

VOCE, CRIADOR DA REALIDADE

OU
APROVEITE O SEU SINTOMA, UM ADENDO

Ken Wilber diz que só o psicótico cria sua propria realidade. Seal diz que só iremos sobreviver se formos um pouco loucos. Então eu digo: sejamos psicóticos, mas na medida certa. Aí entra a ‘loucura controlada’, como ensinada por D. Juan.

Sejamos loucos controlados e, então, sobreviveremos e muito mais.

Tuesday 14 July 2009

Aproveite Seu Sintoma

“Ele explicou que feiticeiros são homens de conhecimento mais do que homens de razão. Desta forma, eles estão um passo a frente dos intelectuais ocidentais que assumem que essa realidade - que quase sempre é equiparada com verdade - é conhecida através da razão. Um feiticeiro clama que tudo o que é conhecido através da razão são os nossos processos de pensamento; mas que é somente entendendo nosso ser total, no seu mais sofisticado e intricado nível, que poderemos eventualmente apagar os limites com que a razão define a realidade.”

Being in Dreaming
By Florinda Donner

Apesar de ainda não ter lido, eu criei uma relação de amor com o título de um livro de Žižek: Enjoy Your Symptom. Desde que eu vi esse título pela primeira vez, ele me intrigou a ponto de se tornar um dos meu mantras pessoais.

Ele me remete diretamente ao dia em que descobri que eu era paranóica.

Foi numa aula de Psicologia Social. O professor falou que se você acreditasse em algum tipo de realidade alternativa, como em Matrix - exemplo dado por ele-, você era paranóico. Acho que devo ter comentado rindo com a pessoa do lado: “Então sou paranóica!”. Não que eu acredite que estamos em estado de animação suspensa em uma cápsula, sonhando dentro de um sistema de computador, enquanto máquinas espertas se alimentam de nossas energias - mas a verdade é que estamos. Acredito que essa foi uma das melhores maneiras já mostradas no cinema sobre a nossa condição de gado - vale colocar aqui que um dos capítulos do livro de Žižek trata do filme Matrix, e lendo rapidamente na livraria, vi que ele trata do fato de que, quando você sai da Matrix, você continua em uma vida de sofrimentos, lutas e privações, ou seja, esse primeiro despertar é ilusório. Não posso especular muito sobre o que ele diz realmente no livro pois foi uma leitura ultra superficial, mas se eu captei o sentido correto, me parece bastante acertado. Se você parar e pensar que estamos em um “estado de cebola”, camada sobre camada, o primeiro despertar é só isso mesmo: o primeiro de muitos outros que ainda vamos ter que buscar, com o risco de parar no meio achando que chegou no final.

Também me lembro de um outro dia, numa aula de Teoria da Psicanálise, quando uma colega comentou sobre uma experiência mística que ela teve em uma dessas jornadas esótericas. Ela perguntou ao professor se isso seria uma experiência espiritual ou apenas um epsódio psicótico, no que ele respondeu algo como: “E por que não os dois ao mesmo tempo?”.

A questão é que para ser bruxa, feiticeiro, mago, grão-mestre, e até padre, acreditar em níveis de realidade ou mundos além da nossa esfera cotidiana, alguém tem que ser meio, senão totalmente, doido, paranóico e psicótico, entre outas coisas. Claro que não dentro dos moldes da patologia tradicional, um louco descontrolado, ou doido de jogar pedra, como se diz na Bahia, mas um louco que sabe se passar por normal para os outros normalpatas. Que por falar nisso, a normalpatia é o que eu considero a pior loucura, aquela loucura legítima, em que o doido nem sabe que é doido.

Aqui entram, finalmente, conceitos que me são muito caros, e com os quais eu também tenho um caso de amor: a loucura controlada e a espreita como colocados por Castaneda em seus livros.

A loucura controlada tem sido o meu método, se é que isso é um método, de operar na realidade cotidiana sem enlouquecer nos moldes tradicionais e ir parar nas mãos de um psiquiatra com cara de peixe-morto (é que uma vez eu me auto-diagnostiquei depressão e fui consultar um psiquiatra que tinha cara de peixe-morto, e para o qual eu nunca voltei, porque para mim ele não passava de um zumbi, mais zumbi que eu, então como poderia ele me ajudar? Sim, sim, típico comportamento paranóico). E a espreita tem sido o meio almejado de conseguir me ajustar a tudo isso, fingindo sem ser falsa. Para mim, a loucura controlada depende diretamente da maestria na espreita.

Claro que eu não domino a espreita ainda e vivo me deixando enredar pelo cotidiano volta e meia, confundindo a máscara com a cara, e achando que eu sou o personagem. Resumindo, me identificando com a verdadeira loucura que é a dita realidade. Mas apesar de tudo isso, eu acho que vale a pena continuar, mesmo que isso esteja consumindo a minha vida inteira, afinal, com o que mais eu consumiria ela? O que vale mais?

Minha única conclusão aqui é : aproveite seu sintoma e não tenha pena de si mesmo.

Enjoy your symptom and don’t feel sorry for yourself

Friday 3 July 2009

Eu, A Bruxa?


“Elas qeriam que eu mudasse a maneira na qual eu me concentrava em assuntos cotidianos como cozinhar, limpar, lavar roupas, ir para a faculdade ou ganhar a vida.

Isso deveria ser feito, elas me disseram, sob auspícios diferentes: essas atividades não deveriam ser tarefas mundanas, mas esforços engenhosos, um tão importante quanto o outro.”


“-Eu sei o que você espera de feiticeiros. Você quer rituais, encantamentos. O estranho, cultos misteriosos. Você quer cantar. Você quer ser uma com a natureza. Você quer comungar com os espíritos das águas. Você quer paganismo. Alguma visão romântica do que os feiticeiros fazem. Bem germânico. Para pular no desconhecido, - ela continuou – você precisa ter estômago e mente. Somente com eles você poderá ser capaz de explicar para você mesma e para os outros os tesouros que voce deverá encontrar.”


Being in Dreaming
By Florinda Donner



Esperamos que o mágico oculto no universo nos seja revelado através dos mais elaborados e bizarros rituais: séries de atos e palavras que devem ser aprendidos e repetidos em certa ordem desencadeariam certos eventos ou moveriam certos portais que, então, nos permitiriam controlar forças ocultas ou obter poderes supranormais que, no fim das contas, acabariam servindo apenas para entreter nossos egos e realizar desejos infantis.

Na verdade, não é esse tipo de bruxaria ao qual estou me referindo aqui. Se você espera receita de feitiços usando maçãs, velas, etc e tal, não irá encontrar nada parecido. Na verdade, o que pratico, ou pelo menos tento, é entrar em contato com certas forças – de fato, percebê-las conscientemente, pois elas já estão em contato conosco – que levariam ao caminho do auto-conhecimento ou, ainda melhor, auto-realização.

Eu não faço parte de nenhuma linhagem de bruxos ou sigo qualquer espécie de tradição ou sistema mágico estabelecido para obter conhecimento ou realizar magia. Na verdade, eu não faço nada de parecido com bruxaria de acordo com que o senso comum está acostumado a denominar como tal. Isto não quer dizer que certos sistemas, escolas ou tradições não me influenciem ou inspirem de alguma forma. O que quero deixar claro é que eu não tenho qualquer tipo de compromisso ou afiliação com os mesmos. Essa falta de compromisso me permite absorver e digerir aquilo com que entro em contato e utilizar o que aprendo de acordo com meus instintos. Reconheço que essa forma de aproximação pode ser pouco prática, podendo até ser perigosa ou apenas infrutífera – o que é na maioria das vezes, especialmente quando não se tem uma egrégora potencializando seus esforços. Porém isso também me poupa de ligações indesejáveis, muitas das quais eu nem iria notar, mas elas estariam lá, no meu campo de energia - muitas estão, mesmo assim. Não sou tão inocente a ponto de achar que estou livre delas.

Escolhi chamar essas práticas ecléticas de bruxaria simplesmente porque, como mulher, me sinto confortável com esse título, inclusive abarcando o significado prejorativo que isso pode ter. Por tanto, me considero uma bruxa.

Não tenho datas especiais, dias específicos, locais ou instrumentos mágicos – não que eu não possa eventualmente vir a fazer uso disso, mas minha prática se dá no dia a dia, e o melhor instrumento é meu corpo-mente. Imaginação, criatividade e atenção são minhas metas a serem desenvolvidas sob o meu controle, pois no momento eu as tenho de forma absolutamente caótica, não o caos que possue uma ordem oculta e complexa, mas meu caos interior que é, na verdade, a simples e vulgar bagunça. Dessa forma, dando dois passos pra frente e um para trás, tem se dado minha lenta e cansativa progressão. Não que eu esteja feliz e satisfeita com isso, mas é tudo o que obtive até o momento.

Se eu vou chegar a algum lugar ou obter algo? Falando sério, essa jornada não é exatamente sobre chegar a lugar nenhum ou se obter nada visível. Essa jornada é sobre dar um passo além da minha humanidade, através dela.