Saturday 17 April 2010

AVISO

Os posts que seria publicados aqui, estao sendo publicados no UL sob a tag Bruxaria da Vida Cotidiana por motivo de simplificacao e unidade.

Monday 30 November 2009

Teatro de Sombras




O tempo passa e não existe nada além de mim, só eu, eu, eu, até onde meu coração alcança. Existe algo além da solidão? Duvido, tudo ilusão.

As pessoas não são reais, são todas projeções dos seus medos, dos seus sonhos, dos seus desejos.

Eu me relaciono com o que projeto em você, você se relaciona com o que projeta em mim.

Zizek diz que o real é insuportável, o excesso de aproximação revela a feiura do outro, que incomoda porque sabemos também ser feios perto demais. Portanto não interagimos com o real, mas sim com a realidade, que sempre possui um tom de ‘phantasia’, algo que projetamos para fazê-la suportável.

Olhe em volta, este é o mundo que você criou. Talvez saber disso é mais difícil de suportar do que achar que a realidade lhe é imposta.

O problema é que criamos tudo e nos criamos sem saber o que estamos fazendo. Somos criadores ignorantes, somos sonâmbulos. A única solucao seria acordar, mas isso lhe faria consciente de possuir 100% de responsabilidade, e isto, eu confesso, é esmagador.

Saturday 21 November 2009

Da próxima vez que te chamarem de neurótico diga ‘Sim, obrigado’

A pessoa que é normal, em termos de ser bem adaptada [à sociedade], é, geralmente, menos saudável do que a pessoa neurótica, em termos de valores humanos. Frequentemente, ela é bem adaptada apenas às custas de ter desistido do seu self de forma a se tornar mais ou menos a pessoa que ela é esperada ser. Toda a individualidade e espontaneidade poderá ter sido perdida. Por outro lado, a pessoa neurótica pode ser caracterizada como alguém que não estava pronto a se render completamente na batalha pelo seu self. Certamente, sua tentativa de salvar seu self individual não foi bem sucedida, e ao invés de expresar o seu self produtivamente, ela procurou salvação através de sintomas neuróticos e através da retração em um mundo de fantasias. De qualquer forma, do ponto de vista dos valores humanos, ela é menos deficiente do que o tipo de pessoa normal que perdeu toda a sua individualidade.

By Erich Fromm
In The Fear of Freedom

Wednesday 4 November 2009

O Ego como uma agência de fortalecimento



As percepções internas sobre o ‘eu’ deveriam contar mais do que as percepções externas, aquelas que provém de terceiros, mas como as pessoas em geral tem um ego muito fraco e pouco definido - ouso dizer que a maioria, daí o nome massa, ou como alguns dizem em desdem: ‘a massa ignara’ – a indentidade acaba sendo algo mais imposto do que sentido. Porque o ‘ego’, ou melhor dizendo, o ‘eu’ é em geral apenas esquemático, a grande maioria de nós está sujeita a cair presa de todo tipo de armadilhas mentais, manipulações de terceiros, condicionamentos subliminares, entre outras coisas. Na verdade, não sabemos o que é isto, o ‘eu’, vivemos uma ilusão do ‘eu’, parecemos indivíduos, vivemos em uma sociedade individualista, ego-cêntrica, mas o centro na verdade está neste ‘eu’ ilusório, este ‘eu’ que criaram para nós. Daí o porque as pessoa se deixam enredar pelos papéis. Os papéis sociais se sobrepoem ao que seria a essência pessoal. A individuação no mundo conteporâneo ainda é uma ilusão, ou melhor dizendo, uma grande delusão.

Mudando o foco e voltando para os tais processos interiores, as percepções internas deveriam contar mais do que as externas, e não importa qual a mais acurada –mesmo com o risco de se estar vivendo uma alucinação – porque ao fim, quando todos se afastam, são só os seus próprios pensamentos e sentimentos que ficam, e é só com eles que você é obrigado a conviver sem escolha.

Segundo vários filósofos e psicanalistas, psicólogos e afins, o ‘eu’ é definido pelo outro, pela presença do outro, o não-eu. Mas talvez o verdadeiro ‘eu’, aquele ‘eu’ que alguns chamam de self, ou ‘eu’ total, ou qualquer outro nome que escolas de psicologia e místicos queiram dar, apenas possa ser encontrado no isolamento. Quando o mundo lá fora silencia, você pode finalmente ouvir com clareza as vozes da sua multidão interior. Qualquer tentativa de unificação e integração deveria ser conduzida em um estado de isolamento, e quando o isolamento físico não é possível, imagino um estado de isolamento mental, um período de retiro do mundo, mesmo quando se está nele (o que entendo ser um equilíbrio extremamente delicado), possa colocar a pessoa em contato com si mesmo, algo além do ‘eu’ mundano.

Desta forma, quando as conexões externas são estabelecidas –mas saiba que elas nunca mais serão as mesmas, porque você nunca mais será o mesmo - você deve estar forte o suficiente para que nada ou ninguem possa ser capaz de te retira do seu centro, de te manipular, te fornecer uma realidade pre-manufaturada. É a isto que eu chamo fortalecimento do ‘ego’, fortalecimento do ‘ego’ não é um processo de ego-centrismo ou ego-ismo, mas de ser capaz de se sustentar mentalmente sem cair presa da ‘ordem natural do pasto’.

A questão maior é, você seria capaz de ficar forte o suficiente para não cair presa do próprio ego? Fortalecer o ego para depois vê-lo/se morrer no processo de transcendência é um desafio ainda maior.

Sunday 11 October 2009

Mais Carlitos

"Energia compartilhada cria parentesco. Energia eh como sangue."

The Art of Dreaming
Castaneda

Tuesday 8 September 2009

Intento


“Intentar é desejar sem desejar, fazer sem fazer.”

In The Art of Dreaming
By Castaneda

Convenhamos que depois dessa fica fácil acreditar que Castaneda copiou coisas do Tao Te King...
Mas isto não é importante, só a mensagem importa.

E dom Juan? Existiu mesmo no mundo “real”?

Oh! seres sem fé e de pouca imaginação...

Saturday 29 August 2009

A INSUSTENTAVEL LEVEZA




Esvaziando o copo, ou melhor, o corpo

“— Armas mágicas eram terrivelmente importantes antigamente —
continuou Clara. — Armas como os cristais tornaram-se uma extensão do próprio
corpo do feiticeiro. Elas eram cheias de energia capaz de ser canalizada e
projetada externamente, através de espaço e tempo. Contudo, a arma definitiva
não é um dardo de cristal, uma espada ou mesmo uma arma, mas o corpo
humano. Pois ele pode ser transformado em instrumento capaz de reunir,
armazenar e direcionar energia

— Podemos considerar o corpo como um organismo biológico ou como
fonte de poder — prosseguiu Clara. — Tudo depende do estado do inventário em
nosso depósito; o corpo pode ser duro e rígido ou suave e flexível. Se nosso
depósito está vazio, o próprio corpo está vazio, e a energia do infinito pode fluir
através dele.

Clara reiterou que para nos esvaziarmos temos de mergulhar em um
estado de recapitulação profunda e permitir que a energia flua através de nós
livremente. Apenas na quietude, ressaltou ela, podemos conceder ao vidente
pleno domínio, ou a energia impessoal do universo pode transformar-se na
própria força pessoal da intenção.

— Quando nos esvaziamos suficientemente de nosso inventário obsoleto e
obstaculizante — continuou ela —, recebemos a energia, que se acumula
naturalmente; quando uma quantidade suficiente se aglutina, ela se transforma
em poder. Qualquer coisa pode anunciar sua presença: um ruído alto, uma voz
suave, um pensamento que não é nosso, uma onda inesperada de vigor e bem estar.”

In A Travessia das Feiticeiras, Taisha Abelar



A Insustentável leveza

Quando se chega a um certo ponto da vida onde estamos devidamente culturados e condicionados, esvaziar é uma tarefa muito mais árdua do que continuar enchendo e acumulando, sejam comportamentos, conhecimentos inertes, ligações que se tornam elos e elos que, por fim, se tornam correntes.

Em princípio pode parecer que esvaziar e tornar-se mais leve e fluido é algo que todos exultariam em conseguir, mas não é bem assim. Me lembro de ter lido em um desses livros de cura energética uma história bem ilustrativa sobre isso. A terapeuta havia tido um grande trabalho com um paciente para que este pudesse se liberar de uma forma-pensamento que estava causando-lhe sérios distúrbios, quando por fim ele conseguiu o intento, não pode suportar a súbita sensação de leveza e liberdade que sobreveio com a limpeza de seu campo energético. O que esta pessoa fez então foi criar uma nova forma-pensamento e colocar no lugar da antiga, e lá foi ela arrastando sua bola de ferro e corrente mais uma vez.

A questão é que o homem desaprendeu a ser livre. O vazio, ao invés de ser o ‘vazio criativo’, se tornou um lugar de ansiedade e pânico, pois o homem não sabe lidar com o que é seu estado de liberdade. É mais confortável, ainda que destrutivo, continuar caminhando encurvado com um enorme saco nas costas do que enfrentar as dores inicias do momento em que ele consegue, finalmente, se livrar do peso extra e esticar a coluna. O ser humano prefere agarrar desesperadamente sua carga, simplesmente por medo de andar ereto sem segura em nada, sem uma muleta. Ele tem medo de flutuar e se perder no espaço, tem medo de enlouquecer, tem medo de se dissolver caso não se sinta sólido e pesado o suficiente. Enfim, tem medo.