Saturday 29 August 2009

A INSUSTENTAVEL LEVEZA




Esvaziando o copo, ou melhor, o corpo

“— Armas mágicas eram terrivelmente importantes antigamente —
continuou Clara. — Armas como os cristais tornaram-se uma extensão do próprio
corpo do feiticeiro. Elas eram cheias de energia capaz de ser canalizada e
projetada externamente, através de espaço e tempo. Contudo, a arma definitiva
não é um dardo de cristal, uma espada ou mesmo uma arma, mas o corpo
humano. Pois ele pode ser transformado em instrumento capaz de reunir,
armazenar e direcionar energia

— Podemos considerar o corpo como um organismo biológico ou como
fonte de poder — prosseguiu Clara. — Tudo depende do estado do inventário em
nosso depósito; o corpo pode ser duro e rígido ou suave e flexível. Se nosso
depósito está vazio, o próprio corpo está vazio, e a energia do infinito pode fluir
através dele.

Clara reiterou que para nos esvaziarmos temos de mergulhar em um
estado de recapitulação profunda e permitir que a energia flua através de nós
livremente. Apenas na quietude, ressaltou ela, podemos conceder ao vidente
pleno domínio, ou a energia impessoal do universo pode transformar-se na
própria força pessoal da intenção.

— Quando nos esvaziamos suficientemente de nosso inventário obsoleto e
obstaculizante — continuou ela —, recebemos a energia, que se acumula
naturalmente; quando uma quantidade suficiente se aglutina, ela se transforma
em poder. Qualquer coisa pode anunciar sua presença: um ruído alto, uma voz
suave, um pensamento que não é nosso, uma onda inesperada de vigor e bem estar.”

In A Travessia das Feiticeiras, Taisha Abelar



A Insustentável leveza

Quando se chega a um certo ponto da vida onde estamos devidamente culturados e condicionados, esvaziar é uma tarefa muito mais árdua do que continuar enchendo e acumulando, sejam comportamentos, conhecimentos inertes, ligações que se tornam elos e elos que, por fim, se tornam correntes.

Em princípio pode parecer que esvaziar e tornar-se mais leve e fluido é algo que todos exultariam em conseguir, mas não é bem assim. Me lembro de ter lido em um desses livros de cura energética uma história bem ilustrativa sobre isso. A terapeuta havia tido um grande trabalho com um paciente para que este pudesse se liberar de uma forma-pensamento que estava causando-lhe sérios distúrbios, quando por fim ele conseguiu o intento, não pode suportar a súbita sensação de leveza e liberdade que sobreveio com a limpeza de seu campo energético. O que esta pessoa fez então foi criar uma nova forma-pensamento e colocar no lugar da antiga, e lá foi ela arrastando sua bola de ferro e corrente mais uma vez.

A questão é que o homem desaprendeu a ser livre. O vazio, ao invés de ser o ‘vazio criativo’, se tornou um lugar de ansiedade e pânico, pois o homem não sabe lidar com o que é seu estado de liberdade. É mais confortável, ainda que destrutivo, continuar caminhando encurvado com um enorme saco nas costas do que enfrentar as dores inicias do momento em que ele consegue, finalmente, se livrar do peso extra e esticar a coluna. O ser humano prefere agarrar desesperadamente sua carga, simplesmente por medo de andar ereto sem segura em nada, sem uma muleta. Ele tem medo de flutuar e se perder no espaço, tem medo de enlouquecer, tem medo de se dissolver caso não se sinta sólido e pesado o suficiente. Enfim, tem medo.



1 comment:

  1. Ter bom humor, ou saber rir de si mesmo, é imprescindível para ser mais leve. E isso eu aprendi com a ajuda de quem mais me avacalhou!

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