Monday 30 November 2009

Teatro de Sombras




O tempo passa e não existe nada além de mim, só eu, eu, eu, até onde meu coração alcança. Existe algo além da solidão? Duvido, tudo ilusão.

As pessoas não são reais, são todas projeções dos seus medos, dos seus sonhos, dos seus desejos.

Eu me relaciono com o que projeto em você, você se relaciona com o que projeta em mim.

Zizek diz que o real é insuportável, o excesso de aproximação revela a feiura do outro, que incomoda porque sabemos também ser feios perto demais. Portanto não interagimos com o real, mas sim com a realidade, que sempre possui um tom de ‘phantasia’, algo que projetamos para fazê-la suportável.

Olhe em volta, este é o mundo que você criou. Talvez saber disso é mais difícil de suportar do que achar que a realidade lhe é imposta.

O problema é que criamos tudo e nos criamos sem saber o que estamos fazendo. Somos criadores ignorantes, somos sonâmbulos. A única solucao seria acordar, mas isso lhe faria consciente de possuir 100% de responsabilidade, e isto, eu confesso, é esmagador.

Saturday 21 November 2009

Da próxima vez que te chamarem de neurótico diga ‘Sim, obrigado’

A pessoa que é normal, em termos de ser bem adaptada [à sociedade], é, geralmente, menos saudável do que a pessoa neurótica, em termos de valores humanos. Frequentemente, ela é bem adaptada apenas às custas de ter desistido do seu self de forma a se tornar mais ou menos a pessoa que ela é esperada ser. Toda a individualidade e espontaneidade poderá ter sido perdida. Por outro lado, a pessoa neurótica pode ser caracterizada como alguém que não estava pronto a se render completamente na batalha pelo seu self. Certamente, sua tentativa de salvar seu self individual não foi bem sucedida, e ao invés de expresar o seu self produtivamente, ela procurou salvação através de sintomas neuróticos e através da retração em um mundo de fantasias. De qualquer forma, do ponto de vista dos valores humanos, ela é menos deficiente do que o tipo de pessoa normal que perdeu toda a sua individualidade.

By Erich Fromm
In The Fear of Freedom

Wednesday 4 November 2009

O Ego como uma agência de fortalecimento



As percepções internas sobre o ‘eu’ deveriam contar mais do que as percepções externas, aquelas que provém de terceiros, mas como as pessoas em geral tem um ego muito fraco e pouco definido - ouso dizer que a maioria, daí o nome massa, ou como alguns dizem em desdem: ‘a massa ignara’ – a indentidade acaba sendo algo mais imposto do que sentido. Porque o ‘ego’, ou melhor dizendo, o ‘eu’ é em geral apenas esquemático, a grande maioria de nós está sujeita a cair presa de todo tipo de armadilhas mentais, manipulações de terceiros, condicionamentos subliminares, entre outras coisas. Na verdade, não sabemos o que é isto, o ‘eu’, vivemos uma ilusão do ‘eu’, parecemos indivíduos, vivemos em uma sociedade individualista, ego-cêntrica, mas o centro na verdade está neste ‘eu’ ilusório, este ‘eu’ que criaram para nós. Daí o porque as pessoa se deixam enredar pelos papéis. Os papéis sociais se sobrepoem ao que seria a essência pessoal. A individuação no mundo conteporâneo ainda é uma ilusão, ou melhor dizendo, uma grande delusão.

Mudando o foco e voltando para os tais processos interiores, as percepções internas deveriam contar mais do que as externas, e não importa qual a mais acurada –mesmo com o risco de se estar vivendo uma alucinação – porque ao fim, quando todos se afastam, são só os seus próprios pensamentos e sentimentos que ficam, e é só com eles que você é obrigado a conviver sem escolha.

Segundo vários filósofos e psicanalistas, psicólogos e afins, o ‘eu’ é definido pelo outro, pela presença do outro, o não-eu. Mas talvez o verdadeiro ‘eu’, aquele ‘eu’ que alguns chamam de self, ou ‘eu’ total, ou qualquer outro nome que escolas de psicologia e místicos queiram dar, apenas possa ser encontrado no isolamento. Quando o mundo lá fora silencia, você pode finalmente ouvir com clareza as vozes da sua multidão interior. Qualquer tentativa de unificação e integração deveria ser conduzida em um estado de isolamento, e quando o isolamento físico não é possível, imagino um estado de isolamento mental, um período de retiro do mundo, mesmo quando se está nele (o que entendo ser um equilíbrio extremamente delicado), possa colocar a pessoa em contato com si mesmo, algo além do ‘eu’ mundano.

Desta forma, quando as conexões externas são estabelecidas –mas saiba que elas nunca mais serão as mesmas, porque você nunca mais será o mesmo - você deve estar forte o suficiente para que nada ou ninguem possa ser capaz de te retira do seu centro, de te manipular, te fornecer uma realidade pre-manufaturada. É a isto que eu chamo fortalecimento do ‘ego’, fortalecimento do ‘ego’ não é um processo de ego-centrismo ou ego-ismo, mas de ser capaz de se sustentar mentalmente sem cair presa da ‘ordem natural do pasto’.

A questão maior é, você seria capaz de ficar forte o suficiente para não cair presa do próprio ego? Fortalecer o ego para depois vê-lo/se morrer no processo de transcendência é um desafio ainda maior.